quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

O arriscar-se divino



O arriscar-se divino

“E o Verbo se fez carne...” (Jo 1,14)
 
Contemplemos o presépio. Vejamos nele não o simples o fato que Deus nasce em uma situação de simplicidade ou pobreza, mas que esse menino, colocado em uma manjedoura, é Deus. Ele é projeto de uma vida nova, de uma esperança viva e de um amor pleno.
Mesmo se fossemos capazes de dar todas as nossas riquezas para que aquela criança nascesse em uma situação humanamente digna o fato não mudaria: Ela é Deus. E é diante desse mistério que devemos nos curvar.
O projeto de Salvação da humanidade assume uma via de risco quando se inicia em um pequeno embrião e assume todo o percurso de construção de uma vida. Deus ousa quando se faz presente em na fragilidade de um feto e passa pelos perigos de um nascimento.
Todo amor comporta risco. Imaginemos a situação de Maria e José. Os dois, de forma diversa, assumiram um risco diante do projeto que estava diante deles. Eles assumiram esse perigo porque confiaram na Promessa. Eles ousaram acreditar na Aliança que Deus tinha realizado àqueles que os antecederam.
Deus mesmo arrisca a sua divindade quando decide cumprir o seu plano de salvação fazendo-se ele mesmo homem. A redenção humana inicia-se quando Ele toca essa realidade e a transforma. Ele revela o seu amor quando se doa, quando entrega-se e arrisca-se.
Essa ousadia aumenta quando tudo isso é colocado diante de um homem livre que pode dizer um simples e destruidor “não”. Essa é a grandeza, a riqueza e a complexidade do amor que realizou Deus ao assumir a nossa carne. Um risco não só essencial, mas também o humano de não ser aceito, de não ser correspondido, sendo rejeitado ou negado.
Como não corresponder a esse amor? Como não colocar-se diante dessa criança e adorá-la? Como não ver nela o germe de uma redenção, a potencialidade de uma nova vida, a eficácia de uma esperança que transforma o nosso modo de ver e agir sobre o mundo?
Dentro de cada um de nós nasce essa criança. Ela, como todas as outras, assume um risco. A sua vida está dependente de nossos cuidados, de como a alimentamos e a protegemos. Dentro dela é presente o projeto de uma vida nova que se revela como mistério de amor. Amor que ousa diante do outro e aguarda o seu sim livre e integral.


domingo, 22 de dezembro de 2013

“João é o seu nome”

Segunda feira da IV Semana do Advento
23 de dezembro de 2013

“João é o seu nome” (Lc 1,63)

A novidade do nome significa a novidade de todos os fatos que estavam por acontecer. A história não seria mais a mesma, os homens não seriam mais os mesmos. O próprio Deus não seria mais compreendido da mesma forma. Algo novo estava para acontecer.
Essa diferença, entretanto, só se realiza quando estamos abertos a ela. Quando sabemos ir contra um mundo que tenta conformar todos ao seu modo de pensar e agir. Quando confiamos nas promessas de Deus e sabemos esperar a sua realização.
Saibamos experimentar as novidades de Deus. Optemos pelo seu projeto que é sempre diverso e dinâmico, que sempre gera vida nova onde menos esperamos. Que o nascimento de João porte consigo a esperança de um mistério que está por realizar-se.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

“Nada é impossível para Deus”

Sexta feira da III Semana do Advento
20 de dezembro de 2013

“Nada é impossível para Deus” (Lc 1,37)

A dúvida de Maria é diferente da falta de esperança de Zacarias. O seu questionamento já porta consigo um ato de fé: nenhum homem é capaz de realizar por si mesmo esse Reino prometido. O seu sim é, portanto, de disposição ao mistério.
Arriscamos muito quando reduzimos o projeto de salvação humana às nossas categorias de ações. Acabamos por limitar Deus e, consequentemente, negá-lo. Acabamos por esquecer que ele age sobre nossa humanidade, para superá-la e elevá-la.
Saibamos colocar-se diante do mistério da salvação humana como uma dinâmica que nos abre à eternidade. Essa abertura nos permite viver o projeto de Deus que é participação de todos os homens à Sua vida divina.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

“Eis que ficarás mudo...”

Quinta feira da III Semana do Advento
19 de dezembro de 2013

“Eis que ficarás mudo...” (Lc 1,20)

Zacarias fica mudo porque desconfia das palavras do Anjo. Ele se apega às suas limitações e esquece que o poder de Deus sempre é capaz de superá-las. Diferentemente de Maria, o seu silêncio foi imposto, para que se cumprisse em sua vida o projeto divino.
Os mistérios que estamos para contemplar é uma realidade que ultrapassa a nossa inteligência e habilidades. Diante dele devemos calar e deixar que Deus cumpra a sua promessa de salvação que toca onde nossa humanidade não é capaz.
Deus que fez brotar vida de uma estéril, fez também nascer a vida de onde vemos somente situações de morte para mostrar ao homem que ele é Senhor da história e que atua muito além de nossas categorias. Diante dele não podemos fazer nada que não seja silenciar e esperar as a realização de sua redenção.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

“Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão...”

Terça feira da III Semana do Advento
17 de dezembro de 2013

“Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão...” (Mt 1,1)

A genealogia de Jesus revela como Deus entra em nossa história por meio de uma dinâmica que assume toda realidade humana. Ele toca a nossa humanidade em um percurso de vitórias e fracassos, alegrias e tristezas, honra e indigência, pecado e graça.
A sua encanação revela o seu amor que é fruto de uma promessa de salvação. Essa aliança se fundamenta em sua fidelidade ao homem, mesmo quando ele lhe é infiel. O projeto de redenção é sempre uma iniciativa divina e uma realização divina.
Saibamos acolher a novidade que nos apresenta Jesus. Ele revela sempre a misericórdia de um Deus que toca a nossa humanidade, em todos os momentos e em todas as circunstâncias, independentemente do que somos, temos ou fazemos.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

“Com que autoridade?”

Segunda feira da III Semana do Advento
16 de dezembro de 2013

“Com que autoridade?” (Mt 21,23)

Os sacerdotes e anciãos não sabem o que responder por que não estão preocupados com a verdade dos fatos, mas somente em seus interesses. A autoridade de Jesus se encontra em viver em função dessa Verdade, sem buscar agradar aos outros.
Quantas vezes traímos a nossa própria verdade e a nossa fé em Deus quando buscamos satisfazer os nossos interesses ou conformar-se ao pensamento alheio. Perdemos o centro e fundamento e o controle de nossa identidade quando escapamos della.
Não temamos escolher um princípio fundamental para a nossa existência e segui-lo com todas as nossas forças. Mesmo podendo ser sinal de contradição, esse é sempre um meio para fixar a nossa identidade e nos direcionar à nossa primeira vocação à santidade.

“Elias já veio, mas não o reconheceram”

Sábado da II Semana do Advento
14 de dezembro de 2013

“Elias já veio, mas não o reconheceram” (Mt 17,11)

Por que o povo de Israel não reconhece em João Batista a presença de Elias, aquele que vem nos preparar para o Senhor? Certamente porque causa incomodo, suas palavras revelam a contradição humana de buscar em Deus somente as próprias necessidades,
Gostamos da verdade sobre o mundo e nós mesmos quando ela nos ajuda. Mas quando essa revela uma área escura de nossa humanidade, quase sempre buscamos disfarçá-la, rejeitá-la, escondê-la. Não reconhecemos que, feia ou bela, ela sempre nos faz crescer.
Reconheçamos em João Batista essa figura de contradição, que causa instabilidade diante de nosso ser que busca constantemente segurança. Ele nos ajuda a purificar-se de nossas falsas imagens de nós mesmos, e nos aponta aquele que é modelo de Homem.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

“A sabedoria é reconhecida por suas obras”

Sexta feira da II Semana do Advento
13 de dezembro de 2013

“A sabedoria é reconhecida por suas obras” (Mt 11,19)

Jesus critica o comportamento infantil de todo aquele que busca ver o mistério divino somente a partir de suas necessidades e categorias. Esperamos um Deus à nossa imagem e semelhança, e acabamos por negá-lo sempre que ele não nos satisfaz.
Vivemos em uma constante insatisfação porque criamos um mundo ao nosso redor e nos decepcionamos com ele quando reconhecemos a sua imperfeição. Deixamos de reconhecer que a Verdade da criação existe independente de nós.
Reconheçamos a sabedoria de Deus que se revela plenamente em Jesus Cristo. Ele revela ao homem o seu mistério e a sua missão. Essa revelação consiste não em criar um mundo para si, mas reconhecer na realidade criada a grandeza e sabedoria do seu Autor.

“O Reino dos céus sofre violência”

Quinta feira da II Semana do Advento
12 de dezembro de 2013

“O Reino dos céus sofre violência” (Mt 11,12)
 
A sequência que inicia dos profetas, passando por João Batista e culminando no Reino dos céus, revela que é o próprio Jesus quem realiza essa promessa. Essa dinâmica, enquanto terrena, viverá sempre em constante tensão com o mundo, que busca negá-la.
Quem adere a Cristo não recebe somente às consequências de sua conquista, mas se conforma ao seu percurso humano. Assim, toda incompreensão, sofrimento, sacrifício, entrega e morte é lida sempre à luz da ressurreição, mas nunca deve ser esquecida ou negada.
Precisamos entrar nesse mistério, não somente contemplar a sua grandeza. Precisamos estar preparados porque ele implica um espírito de fortaleza, esforço, coragem e perseverança. Entretanto, como promessa divina, não podemos temer, porque a recompensa é certa.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

“Meu jugo é suave e meu peso é leve”

Quarta feira da II Semana do Advento
11 de dezembro de 2013

“Meu jugo é suave e meu peso é leve” (Mt 11,30)

Aqueles que seguem Cristo certamente não estarão isentos dos sofrimentos no caminho. Entretanto, esses pesos e dificuldades possuem um caráter redentor. Eles nos conformam ao mistério de nossa humanidade chamada superar-se.
O mundo também nos apresentam sofrimentos e provas. Esses, porém, nos fazem perder a alegria de viver, porque nos desgastam e ferem. Desviam-nos da verdadeira esperança humana e esfriam a nossa capacidade de amar livremente.
Saibamos nos libertar dos fardos do mundo, optemos pelos pesos de Cristo. Ele, obediente à vontade do Pai, sabe que nenhum sacrifício é perdido. Encontremos no mistério do Senhor a paz que nasce na Cruz, uma paz que dá verdadeiro repouso às nossas almas.

“Que nenhum desses pequeninos se percam”

Terça feira da II Semana do Advento
10 de dezembro de 2013

“Que nenhum desses pequeninos se percam” (Mt 18,14)

A atenção do pastor à ovelha perdida revela que é precisamente ela quem necessita de seus cuidados. Ele não se contenta com o número das que já estão salvas. A sua missão, para ser plena, precisa ser integral, sem reduções.
Deus não está atento à quantidade de nossos atos, mas olha o amor com que nós realizamos cada um deles, por simples que sejam. Neles, aprendemos a amar plenamente àquilo que fazemos, sem divisões ou concessões.
No fim de tudo, não seremos julgados pelo número de nossas qualidades ou boas ações, mas no modo como realizamos cada uma delas. Seremos cobrados pela atenção que damos às mínimas coisas. Essa, revela não mesquinhez, mas a integralidade de nossa entrega.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

“Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa”

Segunda feira da II Semana do Advento
9 de dezembro de 2013

“Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa” (Lc 5,24)

O perdão implica mudança de vida. É sair de uma situação de decadência retomando a dignidade fundamental. Ele nos coloca em caminho gerando dinâmica e vitalidade em nossas ações. Com ele, retomamos a ordem de nossa existência, o seu centro e princípio.
Entretanto, esse levantar, caminhar e retomar o caminho de antes não se realiza de modo mágico ou passivo. Precisamos saber que Deus não age sem a nossa liberdade e se nós não buscamos participar ativamente dessa transformação, permaneceremos sempre deitados.
É preciso que nos esforcemos para colaborar com essa graça que nos é dada por Deus em sua misericórdia. Em Cristo esse perdão se torna real e eficaz. Pela sua vida e Palavra, os homens ganham nova força e esperança se ser, viver e caminhar.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

“Os seus olhos se abriram”

Sexta feira da I Semana do Advento
6 de dezembro de 2013

“Os seus olhos se abriram” (Mt 9,30)
 
Duas pessoas cegas buscam em Jesus o caminho de restauração de seu modo de ver o mundo. Essa visão só se adquire com os olhos da fé em Deus, autor, princípio e fim de nossa existência. Só ele é capaz de iluminar a nossa realidade, dando-lhe verdadeiro sentido.
O pecado nasce de um querer olhar o mundo a partir de nossas próprias categorias. Ele é fruto da ambição humana de querer colocar-se no lugar de Deus, já que ele não é mais objeto de sua confiança. Nos fazemos senhores únicos de nossas ações.
Saibamos olhar o mundo como realidade criada, segundo o projeto de Deus. Aprendamos a ver as coisas, não segundo os nossos interesses, mas conforme a verdade e o fim de cada uma delas. Deixemo-nos iluminar por Cristo, Luz dos homens.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

“Edificada sobre a rocha”

Quinta feira da I Semana do Advento
5 de dezembro de 2013

“Edificada sobre a rocha” (Mt 7,25)

O Reino proclamado por Jesus é realidade que precisa ser construída sobre a Vontade de Deus. Essa Vontade é manifesta em sua Palavra que é concretizada em Cristo. Ela precisa ser continuamente estabilizada como fundamento de nossas vidas.
Não é a eficiência de nossos atos que dão segurança a nossa existência, mas o conteúdo que preenche tais ações. O conflito não é entre teoria e prática, mas em saber qual princípio fundamenta as minhas ações.
Não tenhamos medo de investir tempo e esforço em nossos fundamentos. Mesmos não sendo vistos ou considerados pelos outros, são eles que darão qualidade e resistência aos nossos atos. Eles são rocha que dá segurança e estabilidade a nossa vida.

“Tenho compaixão desta gente”

Quarta feira da I Semana do Advento
4 de dezembro de 2013

“Tenho compaixão desta gente” (Mt 15,32)

Todos procuram Jesus porque buscam algo que lhes faltam. Ele sente compaixão daquela gente e busca saciar as suas necessidades. Mas ele também sabe que o alimento que sacia plenamente a fome do homem não pode vir dele mesmo, mas somente de Deus.
No alto do monte Jesus se revela como única realidade capaz de saciar a fome humana. Uma fome que ultrapassa a materialidade da vida e chega ao íntimo de seu coração. Só Deus é capaz de preencher o vazio infinito presente do homem.
Busquemos em Cristo, Pão da Vida, que sacia a humanidade de forma plena e continua. Com ele não sentiremos mais fome porque esse alimento é imperecivel. Nele, descobrimos a riqueza de nossa humanidade capaz de preencher-se completamente de Deus.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

“Felizes os olhos que veem o que vocês estão vendo”

Terça feira da I Semana do Advento
3 de dezembro 2013

“Felizes os olhos que veem o que vocês estão vendo” (Mt 10,23)

O mistério salvífico de Deus revelado em Jesus Cristo não pode ser abraçado completamente pela sabedoria ou inteligência humana. Essa não é uma realidade a ser compreendida, mas uma dinâmica que deve ser abraçada com a vida.
Essa vida em Cristo nasce da contemplação de sua pessoa. Essa, mais do que uma ideia, é uma experiência de ser e agir segundo ele. Desse modo que se configura o cristianismo, não como uma filosofia de vida, mas um modo de caminhar.
Caminhemos, portanto, olhando para Cristo nosso mestre e modelo. Ele, com a sua vida, nos revela o plano salvífico de Deus para os homens. Tal projeto, mais do que uma teoria a ser compreendida, é um caminho a ser trilhado.

“Dize uma só palavra...”

Segunda feira da I Semana do Advento
2 de dezembro de 2013

“Dize uma só palavra...” (Mt 8,8)

A fé daquele centurião é modelo para todos os homens, de todos os tempos. Ele é consciente de que Jesus não é um mágico ou curandeiro. Mas que, por meio de sua Palavra, dá vida nova a todo o que nele crê.
A fé cristã não é a esperança em um deus que nos dá o que pedimos, mas é a confiança de que em Cristo todas as nossas necessidades já se realizam. Essa se cumpre quando amamos, esperamos e cremos em sua Palavra.
Essa Palavra dá vida a todo aquele que nela crê por que é Palavra proferida por Deus. Essa fé, portanto, deixa de ser reduzida a um espaço, a um tempo e a uma condição social específica e amplia-se em um modo de ser e agir mediante Jesus, Verbo Divino.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Revestir-se de luz


Revestir-se de luz


Vigiai, pois, porque não sabeis a hora em que virá o Senhor” (Mt 24,42)

“Estai também vós preparados porque o Filho do Homem virá numa hora em que menos pensardes” (Mt 24,44). Essa vinda iminente de Jesus Cristo nos coloca em um estado de tensão contínua. Não uma tensão negativa, de medo ou fuga diante daquele que vem, mas de uma esperança alegre por saber que ele é a nossa paz.
Surge aqui a imagem da sentinela. Ele não age somente na situação de perigo, mas a antecipa, a previne. Ele evita que o momento esperado lhe pegue de surpresa. Quando vê que determinada situação está prestes a acontecer, ele se prepara. Mesmo com uma visão não tão clara do que está distante, sabe que tudo é motivo de atenção.
“Já é hora de despertardes do sono” (Rm 13,11). A primeira condição necessária para que ele vigie é que esteja acordado. Ele não pode acomodar-se nos momentos de paz, é preciso acumular forças para o momento que essas sejam exigidas, mesmo que no momento esse acúmulo pareça inútil ou vazio.
“Despojemo-nos das obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz” (Rm 13,12). Para estar acordado e em constante atenção é preciso luz. É preciso ser prudente, sabendo analisar tudo o que nos rodeia, não deixando nada às escuras. Revestir-se de luz significa ser capaz de iluminar e enxergar todas as coisas com uma claridade que nasce de nossa transparência e clareza de ser e agir, do contrário, em alguma parte haverá sombra.
“Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” (Rm 13,14). Essa luz, mesmo nascendo em nós, não nos pertence como causa, porque não a criamos. Ela é reflexo de uma conformação de vida a alguém que é, em sua origem e fundamento, Luz dos Homens. Ele ilumina toda a nossa humanidade porque nos mostra o fim de nossa existência para o qual fomos criados.
“Casa de Jacó, vinde, caminhemos à luz do Senhor” (Is 2,5). Caminhar em direção a Cristo é seguir conforme a sua vida. Ele como luz, ilumina tudo o que está ao seu redor. Suas obras não são egoístas, feitas na escuridão, como para si mesmo. Elas manifestam o projeto de um Deus que busca a felicidade do homem, não a sua negação.
Viver, portanto, o Advento do Senhor, significa antes de tudo esperar a sua chegada. Essa não significa um simples olhar ideal para o futuro, mas se realiza no hoje de nossas ações. Esse presente contínuo nos faz viver a alegria de uma vida clara e transparente, sem medos ou angústias por um futuro que é sempre mistério, mas que no hoje recebe o seu fundamento.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

“As minhas palavras não passarão”

Sexta feira da XXXIV Semana do Tempo Comum
29 de novembro de 2013

“As minhas palavras não passarão” (Lc 21,33)

O Reino de Deus, que se realiza plenamente em Jesus, não é somente uma obra de nossas mãos, mas é realidade que se faz presente e deve primeiramente ser percebida. Só quando compreendemos a sua dinâmica podemos colaborar com ela.
Esse Reino se fundamenta na Palavra de Deus que encontra em Cristo a sua concretização. Nele, ela deixa de ser memória, passado ou ideia, e se transforma em condição de vida, caminho que leva nossa existência à plenitude.
Estejamos atentos a essa Palavra de Vida. Diante de um mundo que é passageiro, de pessoas transitórias, de projetos limitados, só ela nos dá um fundamento perene de ser e agir, que nos porta a uma realidade que ultrapassa todo espaço e todo tempo.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

“A vossa libertação está próxima”

Quinta feira da XXXIV Semana do Tempo Comum
28 de novembro de 2013

“A vossa libertação está próxima” (Lc 21,28)

Diante de todos os tipos de sofrimentos e males, Jesus nos dá uma consolação. O poder do mal sobre o homem não é eterno, ele tem um limite. Nesse espaço de tempo, somos chamados a purificar as nossas escolhas e o nosso agir.
Como o ceramista que comprime algumas partes para que essas se tornem mais resistentes, assim são as provas da vida. Elas nos ensinam a enxergar o que é essencial e a optar por ele. Elas nos deixam mais resistentes diante das adversidades.
Cristo é aquele que pela sua morte e ressurreição nos liberta. Por meio de sua humanidade ele nos abre uma porta para uma vida livre de qualquer prisão ou escravidão. Por sua livre entrega ele nos ensina que o caminho da glória inicia na cruz.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

“É pela perseverança que sereis salvos”

Quarta feira da XXXIV Semana do Tempo Comum
27 de novembro de 2013

“É pela perseverança que sereis salvos” (Lc 21,19)

Quem segue Cristo deve estar ciente de que não está conforme a realidade deste mundo. Essa verdade é sinal de contradição e ódio para todos aqueles que não a seguem. Essa perseguição, ao mesmo tempo, confirma a nossa escolha em seguir o Mestre.
Diante de uma realidade que nos atrai constantemente a nos conformar à sua estrutura, devemos aprender a dizer não a tudo aquilo que contradiz a verdade que optamos. Essa opção não é fácil porque implica perseguição e sofrimento.
Somente a firmeza do olhar pode nos ajudar a manter firme a opção que fizemos. Diante de tudo o que nos atrai, somos chamados a manter a constância na verdade que professamos e a perseverar em nosso percurso, certos no fim que nos espera.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

“Não ficará pedra sobre pedra...”

Terça feira da XXXIV Semana do Tempo Comum
26 de novembro de 2013

“Não ficará pedra sobre pedra...” (Lc 21,6)

“Tudo será destruído”. A profecia de Jesus é direcionada, não a um fim catastrófico do mundo, mas para o seu caráter material e perecível. Todas as coisas são passíveis de corrupção e destruição.
É diante desse alerta que somos chamados a fazer uma escolha: Qual o nosso verdadeiro tesouro? Mesmo caminhando por meio das coisas deste mundo, devemos olhar sempre além dele, para algo que permanece e não se corrompe.
Por meio de Cristo podemos realizar esse percurso de forma mais firme e segura. Mesmo sabendo que estamos agindo contrário aos mecanismos deste mundo que nos convida às coisas perecíveis, devemos caminhar constantemente em direção ao que não passa.

“Ela, porém, deu (...) tudo o que lhe restava para o sustento”

Segunda da XXXIV Semana do Tempo Comum
25 de novembro de 2013

“Ela, porém, deu (...) tudo o que lhe restava para o sustento” (Lc 21,4)

A pobre viúva é exaltada por Jesus não somente porque ela faz uma oferta de tudo o que possuía. Nessa oferta, ela também realizava um ato de fé e esperança. Ela era consciente de que sua vida não lhe pertencia e, naquele gesto, a entregava à Deus.
Deus não precisa de nossos bens, de parte de nossa vida, de momentos de nosso tempo. Ele procura que toda a nossa existência seja voltada para ele, como contínua entrega e sacrifício de si. É essa a nossa maior riqueza, é essa a nossa maior oferta.
Olhando para o Cristo, consumamos a nossa vida com aquilo que é essencial. Saibamos investir o nosso maior bem em um fim que não se corrompe. Que todas as nossas ações estejam voltadas para uma felicidade que ultrapassa o espaço e o tempo.


quinta-feira, 21 de novembro de 2013

“Eis a minha mãe e meus irmãos”

Festa da Apresentação de Nossa Senhora
21 de novembro de 2013

“Eis a minha mãe e meus irmãos” (Lc 12,49)

Ao estender as mãos para os discípulos, Jesus declara e institui a sua nova família. Essa é formada não por uma condição biológica ou social, mas implica uma postura que tem como fonte a compreensão de filhos do mesmo Pai.
Maria é mãe de Cristo não somente porque o gera em seu ventre, mas por que soube escutar antes a vontade de Deus e realizá-la em sua vida. Ela gera enquanto obedece, não por medo ou opressão, mas no amor que no silêncio de quem confia e espera.
Saibamos aderir a essa família de Deus. Não somente com a razão, mas antes de tudo com o coração. De pais que geram e de filhos que amam e são amados pelos pais, obedientes à sua Palavra, realizadores de sua vontade, unidos no seu amor.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

“Jesus andava adiante, subindo para Jerusalém”

Quarta feira da XXXIII Semana do Tempo Comum
20 de novembro de 2013

“Jesus andava adiante, subindo para Jerusalém” (Lc 19,28)

O Reino de Deus é um investimento. Precisamos arriscar a nossa vida entregando-a como bem maior a ser multiplicado. Quando estivermos diante do Senhor da Vida, ele nos pedirá contas daquilo que fizemos ou de como o fizemos.
Esquecemos muitas vezes que nossa vida tem um limite, pensamos que ela durará eternamente. Mas haverá um momento em que seremos colocados diante dela e nos questionaremos: “O que tenho a oferecer fruto de minhas mãos?”
Jesus é o primeiro a nos mostrar como se faz esse grande investimento. Na oferta livre e decidida de si por meio da cruz que nasce a grande riqueza humana: um amor que gera vida nova e plena. Seguindo o seu exemplo, subamos com ele e saibamos nos arriscar.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

“Mas não conseguia por causa da multidão”

Terça feira da XXXIII Semana do Tempo Comum
19 de novembro de 2013

“Mas não conseguia por causa da multidão” (Lc 19,3)

Zaqueu procurava ver Jesus, mas não conseguia por causa da multidão. Essa, por ser mais alta e numerosa que ele, acabava por sufocá-lo. Ele, com isso, acabava por desaparecer no meio de tanta gente, de tantas opiniões e decisões.
Quantas vezes também nós desaparecemos no meio da multidão precisamente por que nos deixamos levar por sua aparente “grandeza”? Quantas vezes tememos encará-la porque pensamos que podemos ser esquecidos e pisoteados por todos?
Ser livre no meio em que vivemos, entretanto, não significa fazer as minhas escolhas, motivado pelo que é melhor para mim. Mas é saber definir bem quem é o centro e a força de minhas escolhas, que habita no centro de minha existência e decide realmente o meu fim.

“Mas ele gritava ainda mais forte”

Segunda feira da XXXIII Semana do Tempo Comum
18 de novembro de 2013

“Mas ele gritava ainda mais forte” (Lc 18,39)

O ato de fé daquele homem cego estava precisamente em esperar pelo que parecia impossível. Era em uma constante luta contra si mesmo e contra o mundo que dizia constantemente a ele: “você não vai conseguir”.
A pergunta de Jesus parece ilógica: “Que queres que te faça?”. Ele, porém, quer ouvir de nossa boca o nosso ato de fé. Em acreditar naquilo que não se vê, não somente por que somos limitados, nas porque só ele é Luz que nos ajuda a enxergar o que não podemos.
Nesse caminho é preciso constância, para gritar sempre com mais força. Quanto maior forem os “nãos” do mundo, maior ainda seja o nosso sim. Que nossa esperança esteja firme na promessa Daquele que nos criou e não me colocou no mundo para mendigar no caminho.

domingo, 17 de novembro de 2013

Buscar o essencial

Buscar o essencial


“Tudo será destruído” (Lc 21,6)

Diante dessa catástrofe nas Filipinas que estamos acompanhando, dos seus inúmeros mortos e das consequências devastadoras que um fenômeno como esse porta consigo, não há quem não faça uma pergunta basilar: “Porque?”
Mais do que buscar responsabilizar alguém por um evento como esse, ao lado de tantos outros fenômenos naturais, históricos, políticos, econômicos e religiosos que também geram destruições e mortes, devemos olhar para nós mesmos e considerar o quanto é frágil a nossa vida e o quanto são limitadas as nossas ações.
Por mais que nossas medidas de proteção, investimentos, prevenções nos deem alguma segurança, nada se sustenta diante da dinâmica da vida e da história. Por mais que busquemos, nunca poderemos dominar essa realidade, sendo um mistério, sempre fugirá das nossas tentativas de controle.
Jesus, com um simples gesto daqueles que admiravam a beleza do tempo, fez um grande e profundo discurso sobre esse nosso defeito tão antigo quanto constante: colocamos muita confiança naquilo que é humano, mais do que o necessário. Diante disso, a mensagem é clara: “não ficará pedra sobre pedra: tudo será destruído” (Lc 21,6).
Não podemos colocar a nossa alegria ou esperança em coisas que são passíveis de destruição, que mais cedo ou mais tarde se corrompem. Do contrário, viveremos sempre em uma contínua insatisfação. E, no fim de tudo, veremos que nossa existência foi um contínuo gastar-se sem frutos, uma vida frustrada. Devemos aprender a buscar o fundamental.
Por incrível que pareça, nem mesmo esse caminho é fácil de ser perseguido. A começar por nossa própria humanidade, que tende sempre a buscar aquilo que é mais fácil e prazeroso, que recusa todo sacrifício e esforço. Seguido por um mundo que “objetiva” o mundo e a vida e tenta nos vender tudo isso a um preço muito baixo.
É diante disso que Jesus nos dá forças. Não precisaremos impor essa nossa opção. Por ser fundamental, por si mesma ela, mais cedo ou mais tarde, se manifestará.
“Com a vossa perseverança sereis salvos” (Lc 21,19). Somente quando optamos por aquilo que é essencial, tudo se torna relativo, até mesmo a nossa própria vida. É somente nessa constância de passo que podemos caminhar de forma firme, olhos fixos no fim que buscamos, sem se deixar escandalizar por tudo o que acontece em nosso tempo.

sábado, 16 de novembro de 2013

“É necessário orar sempre...”

Sábado da XXXII Semana do Tempo Comum
16 de novembro de 2013


“É necessário orar sempre...” (Lc 18,1)

O valor da oração como pedido se encontra precisamente em esperar naquele que pode realizá-la. Não é um processo de auto aperfeiçoamento, mas de abertura a graça de Deus, que entra e transforma aquilo que não podemos por nossas forças.
Mais do que um pedido, é um reconhecimento de impotência para realizar aquilo que pedimos. Ao mesmo tempo é ato de fé quando, mesmo não conhecendo completamente aquilo que se busca, nos lançamos àquele que pode nos iluminar ou transformar.
Como ato de confiança, implica deixar de confiar nas próprias forças, compreendendo que muita coisa foge à nossa compreensão. É um abandonar-se à vontade de Deus. Não um abandono vazio ou cego, mas certos do Caminho e da Verdade que nos porta à Vida.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

“O Reino de Deus já está no meio de vós”

Quinta feira da XXII Semana do Tempo Comum
14 de novembro de 2013

“O Reino de Deus já está no meio de vós” (Lc 17,21)

O Reino de Deus não será um momento histórico distante de nosso presente. Não está restrito a um espaço social determinado, nem mesmo é instrumento de posse de uma pessoa. Ele é uma condição humana, sempre presente e possível em nossas vidas.
Ao mesmo tempo, o Reino de Deus, não é uma bonita ideia a ser contemplada. Ele é uma dinâmica concreta e atual, um modo de ser e estar diante de Deus e do outro. Essa condição nos ensina a ser verdadeiros Filhos e, consequentemente, irmãos.
O Reino de Deus é todo espaço e tempo onde Deus é o Senhor, ou seja, o princípio que fundamenta e direciona todas as nossas ações. Esse Reino é concretizado em Jesus que, sendo Filho, nos ensinou a grandeza e a felicidade de fazer a Vontade do Pai.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

“Enquanto caminhavam, ficaram curados”

Quarta feira da XXII Semana do Tempo Comum
13 de novembro de 2013
 
“Enquanto caminhavam, ficaram curados” (Lc 17,14)

Deus age em nossa vida ordinariamente enquanto caminhamos. Conformamos-nos à sua vontade quando sabemos esperar e confiar em suas promessas. Elas se cumprem potencialmente apenas com o nosso sim inicial, mas só são percebidas com o tempo.
Não podemos parar e esperar passivamente por uma transformação extraordinária. Precisamos colocar-se a caminho, mover-se em direção ao fim esperando, mesmo que às vezes não compreendamos todos os seus mecanismos.
Nesse percurso, é preciso evitar qualquer tipo de desvio, com os olhos fixos no fim prometido. Só nesse exercício contínuo reforçamos os nossos passos, deixando-os mais resistentes a todo tipo de adversidade e, consequentemente, nos tornamos mais saudáveis.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

“Somos servos inúteis...”

Terça feira da XXII Semana do Tempo Comum
12 de novembro de 2013

“Somos servos inúteis...” (Lc 17,10)

O serviço que devemos a Deus não muda seu Senhorio. Quando servimos, cumprimos a nossa condição de colaboradores e administradores na criação. O nosso serviço fundamenta-se primariamente em nós mesmos: manifestamos aquilo que somos.
Nesse sentido, quando servimos, não estamos nos subordinamos a nada nem a ninguém. Não estamos nos negado, mas o contrário, cumprimos a nossa condição de seres vivos, animais, com a capacidade de raciocinar com o Deus e com o outro.
Entretanto, não somos senhores absolutos nessa dinâmica. Somos servos “não necessários”, ou seja, não somos capazes de definir ou transformar o fundamento e o fim de nossas ações, mas apenas realizar aquilo que de fato somos.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

“Para que haja quem me receba em sua casa...”

Sexta feira da XXI Semana do Tempo Comum
8 de novembro de 2013

“Para que haja quem me receba em sua casa...” (Lc 16,4)

Também nós somos administradores de um bem muito precioso: a nossa vida. Entretanto, não permaneceremos eternamente nessa função. Haverá o tempo em que estaremos diante dela e nos perguntaremos: “O que eu fui e fiz?”.
Viver, mais do que corresponder às expectativas do presente, é colocar-se e um plano mais amplo de nossa história. É saber que todas as nossas ações tem implicações futuras e que é necessário, muitas vezes, questionar-se: “O que eu quero ser?”, “Onde quero estar?”...
Nesse projeto, devemos aprender a investir: saber perder para ganhar. Sendo conscientes que as vitórias, alegrias ou prazeres atuais nem sempre são sinônimos de uma felicidade firme e duradoura. Entretanto, tudo começa de agora...

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

“Digo-vos que haverá júbilo entre os anjos de Deus por um só pecador que se arrependa”

Quinta feira da XXI Semana do Tempo Comum
7 de novembro de 2013

“Digo-vos que haverá júbilo entre os anjos de Deus
por um só pecador que se arrependa” (Lc 15,10)

Jesus não vem ao mundo para formar uma comunidade de justos e santos. Sua missão consiste em reconduzir o homem ferido pelo pecado à comunhão plena com Deus. Sua vida é um constante arriscar-se para que o homem tenha vida.
Não somos objetos passivos nas mãos de Deus, como algo a ser julgado “bom” ou “mal” segundo suas categorias. Somos sujeitos do seu interesse e do seu amor, bens preciosos que precisam ser cuidados e preservados.
Reconheçamos esse amor divino, não como um soberano que busca servos para exercer a sua soberania e nos colocar limites. Deus é Pai que deseja compartilhar a felicidade de uma vida de comunhão com Ele.

“Qualquer um de vós que não renuncia a tudo o que possui não pode ser meu discípulo”

Quarta feira da XXI Semana do Tempo Comum
6 de novembro de 2013

“Qualquer um de vós que não renuncia a tudo o que possui
não pode ser meu discípulo” (Lc 14,33)

A condição limite para seguir a Cristo é renunciar tudo aquilo que está fora dele. A começar por nossa própria vida e tudo o que a rodeia. Aos nossos projetos e tudo o que eles implicam. Enfim, a todos os nossos bens individuais.
Só escolhe bem aquele que sabe renunciar bem. Não por uma questão de masoquismo, de gosto pela renúncia em si, mas por uma questão de lógica. Se decidimos seguir um caminho, resolvemos, ao mesmo tempo, não seguir todos os outros.
O não que damos às coisas do mundo, tornado-as relativas, é sempre proporcional ao sim que damos a Deus, compreendendo-o como Absoluto. Assim, toda a nossa inteligência, vontades e forças são direcionadas a Ele, como fim ultimo de meu percurso de vida.

“Feliz daquele que se sentar à mesa no Reino de Deus!”

Terça feira da XXI Semana do Tempo Comum
5 de novembro de 2013

“Feliz daquele que se sentar à mesa no Reino de Deus!” (Lc 14,15)

A vida de comunhão com Deus é como uma grande festa. Nela recebemos todos os bens e riquezas desse anfitrião de forma gratuita. Participamos de forma livre, sem coações, na alegria e espontaneidade de um momento que se torna eterno porque é pleno.
Entretanto, muitas coisas ainda nos impedem de participar definitivamente dessa festa. Talvez nossos próprios projetos pessoais, nossos bens ou aqueles com quem nos relacionamos. Esses, ao invés de meios, são colocados como fins a serem perseguidos.
Essa riqueza de Deus não depende ou espera a nossa aceitação para se cumprir, mas é dinâmica que se atualiza continuamente. Não percamos, portanto, essa festa que se apresenta diante de nossos olhos. Ela, como vida em Deus, é certeza de vida feliz.

“Serás feliz porque eles não têm com que te retribuir”

Segunda feira da XXI Semana do Tempo Comum
4 de novembro de 2013

“Serás feliz porque eles não têm com que te retribuir” (Lc 14,14)

O verdadeiro amor se realiza na liberdade e na gratuidade da vida. Amar somente aquele que nos ama é muito fácil porque temos, quase sempre, a certeza da reciprocidade. A caridade cristã vai além dessa lógica porque nos ensina a ir ao princípio dessa dinâmica.
Amar sem esperar ser amado é fonte de nossa felicidade porque fugimos de uma lógica da troca. Não ficamos dependentes daquilo que os outros tem a nos oferecer. Muito menos perdemos a nossa paz quando essas esperanças são frustradas.
Olhemos para Cristo e vejamos nele o grande sinal da plenitude do amor. Suas ações era fundadas na perfeição de uma liberdade que agia sem esperar nada. Ele reconhecia na caridade, não um meio, mas o fim que tornava vivo e real o Pai, fonte primeira do Amor.

domingo, 3 de novembro de 2013

O caminho interior

O caminho interior


“É preciso que eu fique hoje em sua casa” (Lc 19, 5)
 
Não podemos olhar para Zaqueu somente como um pecador que estava distante de Deus e depois que se encontra com Jesus muda o seu caminho. É preciso ir mais profundo. Essa é uma lógica muito precisa, mas pouco humana. Ele, mesmo em sua condição de pecado e injustiça, buscava ver Jesus. Em sua busca por acumular riquezas, queria a felicidade. Entretanto, esse bem era mal direcionado, porque era egoísta.
Ele, entretanto, não conseguia por causa da multidão. O encontro com Deus é uma relação pessoal, que muitas vezes vai contra a ordem das coisas, do que é comum. Isso porque conceitos como caridade, serviço, sacrifício, entrega são realidades que estão muito além da lógica, do normal. São movimentos que nos fazem sair de si e ir em direção ao outro.
Duas forças aparecem nesta dinâmica. Primeiro, a busca de Zaqueu por Jesus subindo em uma árvore para vê-lo. Essa. parece ser uma ação ativa daquele que busca Deus. Todavia, se torna egoísta quando se resume no concentrar-se das próprias forças: “Sou eu que busco Deus e o encontro com meu próprio esforço”. Ao mesmo tempo em que é egoísta é soberba, porque quer encontrar-se com Deus elevando-se acima dos outros, querendo ir além da própria humanidade.
No segundo movimento, acontece a ordem de Jesus para que Zaqueu descesse. O verdadeiro encontro com Deus se realiza em nossa própria casa. Tal dinâmica se resume na abertura que devemos ter diante dele que só entra em nossa existência se abrimos as nossas portas. Esse é um encontro pessoal com Cristo que mostra a verdadeira face de nossa humanidade. Essa abertura aparenta ser passiva, mas representa o grande sacrifício de estar diante de nossas próprias limitações e encará-las como o espaço onde Deus atua.
Não podemos, portanto, falar de caminhos contrários. Ambos são direcionados à felicidade, mas um é limitado porque é egoísta, tendendo aos próprios bens. O outro, não deixando se ser humano, mostra que a verdadeira felicidade não está fora, mas no mais íntimo de nosso ser.
Todos nós somos filhos de Abraão, somos filhos da promessa. Essa, para se realizar, precisa de nosso sim, de nossa abertura ao mistério de Deus que nos aponta a felicidade. O caminho, mesmo sendo longo e árduo, é certo, porque é para nosso interior. Lá ele quer entrar e permanecer conosco.